Dossiê GN’R: A versão de Slash para os fatos N°2
Para Slash, Axl era fundamental no começo do Guns N’ Roses. “Axl sempre era capaz de pegar uma melodia simples de Izzy e transformá-la em algo fantástico”, destaca. Ao longo do livro o guitarrista se equilibra entre críticas e elogios ao vocalista, o que demonstra resquícios de uma amizade adormecida – com certeza o elo que seria necessário para uma sonhada volta da formação clássica do Guns N’ Roses.
Depois Slash assumiria ter adotado uma postura “arrogante” com o músico Paul Stanley (do Kiss), durante um curto tempo em que o consagrado músico de cara pintada esteve metido com os bastidores da banda. Isso demonstra uma autocrítica do guitarrista, importante ao se contar histórias tão controversas e discutidas quanto as vividas no GN’R.
“O estilo de vida ligado às drogas era uma realidade dominante para nós e desempenhava papel principal em tudo o que fazíamos àquela altura”, detalha Slash, sobre o momento compreendido entre o fechamento de contrato com a Geffen e a gravação do álbum "Appetite For Destruction", que deu o ‘start’ para a primeira turnê da banda.
O guitarrista atribui os efeitos dos entorpecentes como ‘inspiradores’ para alguns dos membros do grupo. “Quando acontecia de conseguirmos a droga, Izzy e eu compúnhamos um bocado porque, naquela época, a heroína era um grande catalisador para nós”, relata. “Tão logo ficávamos altos, Izzy e eu começávamos a tocar de improviso e a trabalhar em nossas ideias, criando riffs para lá e para cá”, acrescenta Slash.
Depois viria a entrada do empresário Alan Niven, que tinha no currículo a intermediação do contrato dos Sex Pistols com a EMI. Em seguida, o GN’R lançaria o EP "Live Like a Suicide". Em tal época, Slash enfrentava o vício da heroína, extremamente mal visto por Axl. “Ela é o diabo. E tão atraente e sedutora que transforma uma pessoa num demônio desonesto e traiçoeiro. Ser um viciado é algo parecido com o que imaginamos que seja um vampiro”, descreve o guitarrista. O inconveniente das drogas e também do álcool, por parte de Slash, é sempre citado por Axl como um dos fatores de distanciamento dos dois.
Em determinado momento, Slash conta que ele, Duff e Izzy eram os “ratos de esgoto”, porque saíam para inúmeros clubes e bares ,ao contrário de Axl, que sempre foi mais “sofisticado” e não costumava “apagar” como os três durantes as baladas devido à mistura explosiva de álcool e drogas.
Também em várias partes do livro, Slash desmistifica algo aparente para muitas pessoas, que acreditam que após o tecladista Dizzy Reed ingressar na banda e Steven dar lugar à bateria de Matt Sorum, o Guns produziu músicas menos pesadas, registradas nos álbuns duplos "Use Your Illusion". Canções como “Dont Cry” e “November Rain”, entre outras, começaram a ser compostas e ensaiadas ainda na época do seminal "Appetite For Destruction". “You Could Be Mine”, “Dead Horse” e a cover para “Knockin’ On Heaven’s Door” são também do mesmo periodo, apenas para se ter ideia da complexidade da história e da sonoridade do GN’R.
Em seguida Slash explica a passagem trágica em que viu o melhor amigo morrer em seus braços devido a uma overdose de drogas. O guitarrista narra que mesmo sendo a pessoa que tentou salvar o camarada, acabou se tornando vilão na visão da família do jovem falecido.
O lançamento de "Appetite For Destruction", no dia 21 de julho de 1987, é um marco no livro. Slash descreve como a banda passou de uma incógnita adorada pelo underground de Los Angeles a um sucesso internacional. Da turnê com o The Cult à rápida relação com o Metallica, Slash conta que a “camaradagem” era grande quando o álbum começou a ser assimilado pela crítica e o público. Ele credita a falta do companheirismo ao término da formação clássica da banda.
Aí vieram os shows de abertura para o Aerosmith na Europa e finalmente o grupo se tornou o principal de uma turnê. Mesmo aparentando apego a Izzy, Slash não deixa de, em dado instante, criticar o colega de guitarra. “Izzy era o Grande Instigador. Era capaz de semear a discórdia sem se envolver”, dispara, citando desentendimentos com uma pessoa com a qual conviveram na época. Tudo isso no capítulo “Com o Pé na Estrada”.
Em outubro de 87 a banda encerrara a turnê de AFD e, na visão de Slash, estava se solidificando cada vez mais. A razão era a sintonia com Izzy nas guitarras, a de Duff e Steven compondo a dupla do ritmo e Axl com sua grande energia. Na sequencia vieram as primeiras aparições na recém-criada MTV.
“Foi a nossa primeira exposição de verdade, penetrando lentamente na consciência coletiva”, classifica o guitarrista. A seguir a trajetória do Guns inclui shows de abertura nos Estados Unidos para o grupo Mötley Crue, que Slash considera como “a única banda de Los Angeles que surgiu do cenário do glam rock que era 100% autêntica”. Aliás, muita farra seria registrada na companhia de Nikki e Tommy.
E haveria ainda apresentações na companhia de ninguém menos que Alice Cooper. Entretanto, é nesta ocasião que Axl causaria um imenso constrangimento aos quatro colegas de banda. O vocalista optou por ir depois dos companheiros em um carro com a namorada, ignorando a opinião contrária do empresário e dos músicos da banda. Slash, Izzy, Duff e Steven esperaram até o último instante e tiveram de subir ao palco sem a presença de Axl. Além de terem de improvisar músicas cover enquanto o vocalista não aparecia, os componentes do GN’R chegaram ao ponto de perguntar se havia algum cantor disponível na plateia. “Acabamos insultando o público e atirando coisas nele. Foi ridículo”, avaliou o guitarrista, sem ‘meias palavras’. Depois que Axl não apareceu, os demais músicos do grupo deixaram o palco e voltaram para Hollywood. “Tão putos da vida que só falávamos em chutar Axl da banda ainda naquela noite e procurar outro vocalista”, conta Slash. Ele faz alusão, surpreendentemente, ao tanto de vezes que a possível expulsão do vocalista foi cogitada.
“O assunto de demitirmos Axl surgiu umas seis vezes, completamente a sério, durante o ciclo de vida da banda”, revelou Slash. Na sequencia ele relata que, no caso citado acima, o vocalista ainda agiu como se nada de errado tivesse provocado. “O espantoso em Axl é que ele não entendia, em situações como aquela, que havia feito algo errado, não se mancava”, criticou.
Slash ainda filosofa ao tentar descrever o controverso colega de banda. “Existem certos protocolos que Axl não segue. Uma vez que não habita o mesmo espaço mental que as outras pessoas, as normas aceitáveis não lhe ocorrem”, aponta o guitarrista. “Axl é super-inteligente e, ainda assim, vive num lugar onde a lógica que governa outras pessoas não se aplica. Não se dá conta do inconveniente que suas escolhas podem ser para os outros”, emenda Slash. Tal consideração pelo colega explicaria muito dali em diante...
O percurso do Guns N’ Roses traria a seguir shows de abertura para o Iron Maiden em 1988. O próprio Slash comentaria sobre o inusitado: “Não ficamos assim tão empolgados com a ideia, uma vez que não achávamos que formávamos a combinação perfeita”, admite. O guitarrista mostrou respeito aos ingleses, mas não os isentou de críticas. Ao dizer que o álbum "Seventh Son f a Seventh Son" fora um grande sucesso, Slash ridiculariza a apresentação de palco do Maiden. E ainda lembra de um ‘chilique’ de Axl que culminaria em uma “inquietante tensão” entre as bandas.
O guitarrista passa então a citar novos deslizes do vocalista, como ausências propositais em shows e reuniões da banda. Slash não perdoou o colega: “Falta de consideração de Axl”. Em seguida, após o cancelamento de parte da turnê em que estavam, os membros do GN’R partiriam para abrir apresentações do então renascido Aerosmith.
O poderio alcançado pelo Guns, mesmo com as intempéries de Axl, pode ser medido por algumas palavras de Slash. “Estava claro que, apesar dos sucessos do Aerosmith nas rádios, logo nós nos tornamos a atração principal. Aconteceu muito depressa, graças à exibição constante da MTV de “Sweet Child O’ Mine”, disse o guitarrista, sem falsa modéstia. Tanto é verdade que um jornalista da Rolling Stone havia sido designado para fazer uma reportagem de capa sobre o Aerosmith, mas depois de observar a reação do público e vendo o GN’R tocar ao vivo, optou por colocá-los no lugar do grupo de Tyler e Perry.
Foi nesta turnê de 1988 que o Guns assistiria a duas pessoas morrerem pisoteadas no festival Monsters Of Rock, em Castle Donnington (Inglaterra). “Axl parou o show algumas vezes num esforço para controlar a multidão, mas não havia como acalmá-la”, descreveu o guitarrista.
O ponto a que o GN’R chegara assustava Slash. “A verdade é que o que sempre quisemos fazer foi ficar acima das bandas idiotas de ‘hair metal’, que desfrutam sucesso não merecido por sua existência medíocre”, atacou. “Mas, antes que me desse conta, foi onde aterrissamos quase da noite para o dia”, ponderou. O sucesso alcançava países como Austrália, Nova Zelândia e até o Japão, onde Slash disse ter tido um “tremendo choque cultural”.
A fama beirava o auge, tanto que Slash contou ter realizado um sonho: comprou uma guitarra Les Paul de 1959 de Joe Perry, a mesma que o guitarrista do Aerosmith usava em um pôster que ele tinha na parede de seu quarto quando criança. Depois o músico ainda relataria que a Les Paul faria uma guitarra em sua homenagem – a “Slash Signature” –, réplica de uma comprada por ele, modelo Standard, em 1988. “Levando em conta que fizeram o mesmo por Jimmy Page (do Led Zeppelin), sinto-me honrado”, considerou.
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