Rush: Lifeson comenta canções do novo álbum
Alex Lifeson comentou todas as faixas de Clockwork Angels no site Music Radar.Confira abaixo o texto traduzido para vocês.
Caravan
"Gosto muito dessa canção por ter um grande riff e algumas coisas peculiares no teclado. Foi bom rever a faixa e remixá-la para o álbum com os ouvidos descansados. Conversamos sobre uma regravação, mas não havia muito sentido - ficamos felizes com as performances e com o som. Achamos que poderíamos remixá-la para que ela pudesse se ligar mais ao álbum. A perspectiva mudou um pouco. 'É divertido' - pessoas dizem para mim. 'Eu ouço partes novas na canção. Vocês a regravaram?' Isso é criado pela mudança da ênfase nos instrumentos".
BU2B
"Eu adoro o peso de BU2B. É forte no estilo Zeppelin antigo, traz um grande riff de blues. O refrão é muito forte e o sentimento das letras anuncia o que está por vir. Sobre as guitarras, usei uma Les Paul 1959 e uma Tele. Essa é uma das canções onde eu criei camadas de guitarra. Existem ali provavelmente seis camadas de guitarra. Eu gravei uma nova abertura que não estava na versão que lançamos anteriormente. Comecei a brincar e a compor alguma coisa no meu quarto de hotel. Eu tinha algumas guitarras – um dos meus modelos Axcess e uma Martin emprestada da Guitar Center – e um microfone.
Havíamos conversado sobre fazermos um pouco disso. Dessa forma, deixei o microfone preso na sacada, que gravou alguns sons de fundo: a manhã de Los Angeles, os carros passando, coisas assim. Com as portas da sacada abertas, toquei um pouco de violão, e depois Geddy realizou os vocais. Brincamos com alguns efeitos e criamos a peça. Foi tudo feito de forma espontânea em apenas alguns minutos no meu quarto".
Clockwork Angels
"Eu só estava brincando em casa e aquilo acabou se transformando numa peça bem longa. A maior parte dela é o que Clockwork Angels acabou se tornando. Geddy e eu gostamos de trabalhar em um único dia. Nós geralmente não trazemos mais nada pro momento, nem nos referimos às jams das passagens de som. Ficamos apenas animados por começarmos algo novo. Mas eu tinha aquilo que fiz flutuando, então dei uma cópia a ele, e ele gostou muito e viu um grande potencial. Fizemos novos arranjos e desenvolvemos um pouco mais algumas partes nos versos. A partir dali, a música veio. Eu amo o dedilhar nos versos, eles são muito ativos.
E as pontes são tão sonhadoras que nos levam para outro lugar. Há também uma seção blues na parte mediana que vem do nada, que dá bastante ênfase à letra. E então ela simplesmente cai naquele lindo e crescente arpejo. Essa parte me dá arrepios todas as vezes. Perto do fim, existe uma harmonia vocal realizada por Geddy que soa quase como uma oração. Ele cantou isso em uma das outras partes, e aquilo fica flutuando por ali. Acho que Nick é o responsável por isso. Ele disse, 'Ei, veja isso'. Nós ouvimos e pensamos, 'Oh, temos que ter isso aqui'. É bem bacana, especialmente porque você não sabe de onde vem".
The Anarchist
"Acho que The Anarchist foi uma das primeiras canções que escrevemos para o disco, há poucos anos. Até agora a resposta tem sido bem forte, algo que eu realmente não esperava. É uma canção que vem na sua cara, uma parte poderosa de toda a suíte. Se você ouvir a demo e a versão final verá que estão muito próximas, embora com algumas diferenças. Nick nos levou a pensar sobre uma linha melódica instrumental que daria a identidade da música. O resto é praticamente o mesmo da demo. Tem uma influência oriental, algo que já visitamos antes, coisa que sentimos e gostamos muito. A maneira com que Nick e Neil se aproximaram sobre os arranjos de bateria foi ótima. Normalmente, depois de escrevermos tudo, fazemos cópias das músicas para Neil com baterias programadas ou metrônomos, de modo que ele consiga alguns pontos de referência os quais ele pode querer usar ou desenvolver.
Assim, ele passa as músicas metodicamente, trabalhando em seus arranjos de bateria, memorizando o que vai tocar. É preciso passar aquilo mais ou menos durante um mês, e depois disso partimos para a gravação. Dessa vez Nick disse, 'Quero gravar no primeiro dia. Vamos colocar a musica para tocar, e você irá aprender enquanto estiver tocando. Faremos um monte de takes e veremos onde vai'. Acho que foi uma forma incrivelmente desafiadora de trabalho para Neil, pois ele é o tipo de pessoa que necessita constantemente de novos desafios na vida. Ele realmente toca como um louco no disco – ele está livre, muito livre. É claro, ele tem seu trabalho facilitado por ter que aprender a tocar tudo ao vivo".
Carnies
"Eu amo o riff de abertura e os harmônicos legais. Tem um pouco de Hendrix ou Robin Trower. Os refrões são fortes. O clima festivo e os sons são bem diferente dos versos e da ponte. A subida para a ponte me faz lembrar algo, não sei o que. Vários momentos do álbum soam assim: eles me fazem lembrar de alguma coisa, mas não consigo dizer qual música ou de quando é. No entanto isso é algo muito legal – pessoas gravitando em torno das canções. Pegue Bryan Adams, por exemplo. Várias de suas composições trazem essa qualidade. Ele utiliza melodias de outras canções e é sempre muito bem sucedido. Você pode ouvir sua música e se sentir confortável com a familiaridade, familiarizado com ele. Acontece o mesmo com essa canção. Ela me leva de volta aos Beatles, mas nós não pegamos um disco deles e dissemos, 'Vamos fazer isso'! Mesmo assim há algo nos refrões que lembram os anos 60".
Halo Effect
"Acho que fomos numa direção diferente com Halo Effect. Lembro que estávamos no nosso pequeno estúdio – tínhamos três ambientes diferentes onde coisas aconteciam ao mesmo tempo – quando peguei o violão e comecei a tocar. Quando Geddy iniciou pronunciando a letra tivemos o estalo: ele começou a tocar também, e fomos desenvolvendo a música a partir dali. A canção é realmente sobre as decisões emocionais que fazemos e que não funcionam. Muitas vezes, em um relacionamento – você acha que vê algo a mais que, na verdade, não está lá.
Portanto, a canção deveria ser doce e pesada ao mesmo tempo. Precisávamos desses dois contrastes. Acho que acertamos em cheio. Há um grande som acústico nela, e a seção do solo é algo bem diferente para nós. É do tipo frívola e brilhante, como se você estivesse com borboletas voando no seu estômago, da mesma forma como se sente quando está apaixonado por quem não deveria".
Seven Cities Of Gold
"Então entramos nessa. Tudo começou na fase de composições antes do estúdio, exatamente quando estávamos recuperando o atraso revendo as coisas na casa de Geddy em setembro. Tínhamos algumas músicas, mas queríamos conseguir escrever mais algumas coisas antes de entrar novamente no estúdio em outubro. Passamos a primeira semana apenas bebendo café e pensando que talvez não estivéssemos prontos para gravar. Eu me lembro de descer as escadas e não fazer nada durante alguns dias, somente bebendo café e conversando. Então tivemos o que chamamos de 'os bons seis minutos'. Isso é tudo o que você precisa, de uns bons seis minutos por dia. Dali, a música decolou.
Começamos a comentar a coisa toda, o que é muito legal. A canção é muito cinematográfica. Você pode ouvir o perigo da cidade grande e a aproximação ao nosso viajante. Quando Neil vem e quebramos o riff, você está lá – você está na cidade com toda sua emoção, oportunidades e problemas. A canção tem uma grande arrogância mesmo. Eu a descobri exatamente da maneira que imaginava. Adoro o final, com a guitarra gritando e cuspindo com você deixando a cidade".
The Wreckers
"Eu e Geddy trocamos os instrumentos durante a composição, mas, quando fomos gravar, voltamos para eles. Estávamos influenciados pelas composições um do outro, o que eu penso ser um grande testemunho sobre como trabalhamos. Foi uma experiência muito agradável, produtiva. Foi uma luta para que os versos encaixassem. A acústica era muito doce, mas não se saía bem. Havia um contraste que não parecia amplo o suficiente. Então, depois de muito trabalho, chegamos com uma levada rápida e colocamos os harmônicos, o que criou um belo momento. Essa canção contrasta com o som de um sinal de perigo: não aceitar tudo ao pé da letra. Tenha cuidado.
Coisas que possam parecer tão boas podem vir a ser exatamente o oposto. Há uma sessão mediana onde todo o estrago está feito – estou tentando explicar sem entrar na história – que veio de uma de nossas jams de passagens de som. Uma vez que temos as cordas e os pedais de baixo, esse momento da canção se torna muito visual. The Wreckers traz uma sensação pop. Não é pesada, mas esta emocionalmente ligada a uma presença forte do rock. Os versos são um dos meus momentos favoritos de toda a carreira do Rush".
Headlong Flight
"Começamos com alguns riffs que se tornaram uma longa e ótima jam. Deve ter levado horas. Havia um milhão de partes voando ao redor, todas na mesma tecla. Depois dividimo-la em pedaços, tirando coisas que gostamos e transferindo para outro lugar. Quando ouvimos pensamos, 'Oh meu Deus, temos algo muito legal acontecendo aqui! Devemos torná-la instrumental?' Por fim, decidimos que neste disco, pela primeira vez em muito, muito tempo, não teríamos uma instrumental. Acho que a musica casa muito bem com a letra. Há trechos que são extremamente dinâmicos. Acima de tudo, tivemos que tocar como loucos. Queríamos uma canção onde pudéssemos esticar ao vivo, como fazemos com Working Man. Diminuímos um pouco o trecho mediano. Originalmente havia mais coisas acontecendo, mas pensamos que estávamos exagerando, então reduzimos. Mas há mais do que o suficiente lá".
BU2B2
"Esse momento é parte integrante da história de Neil, ele realmente queria ter esse trecho lá dentro. O problema foi não sabermos como abordá-lo musicalmente. Geddy havia feito os vocais com algumas outras coisas que havíamos escrito, mas ele não estava feliz com aquilo, nem eu. Decidi ficar até tarde da noite, retirei toda a música e fiquei apenas com o vocal. Escutei um monte de vezes e então criei algo mais rítmico – era menos musical, mas que acrescentava muita tensão. No momento de desenvolvê-la, os violões que eu havia feito originalmente foram substituídos por cordas. Colocamos alguns pedais de baixo e coisas do tipo, mas mantivemos tudo muito simples no final. É como um pequeno capitulo".
Wish Them Well
"Nós sempre adoramos a letra, mas essa foi uma canção difícil de desvendar. A primeira versão que tínhamos era bem diferente da original. Ela era um pouco mais etérea, com delays a la The Edge – até demais. Nós a descartamos e começamos a trabalhar em outra coisa completamente diferente, que também foi descartada – simplesmente não funcionava. Isso acontece às vezes, você sabe quando está forçando a barra. Após as duas primeiras versões, buscamos uma abordagem totalmente nova, com as quatro diretas e muito tradicionais progressões de acordes. Esse formato era bem adequado às letras. Foi desafiador, uma forte afirmação, e tinha bastante empenho, o que a tornava interessante. No entanto ainda é muito básica em sua entrega, o que eu acho que foi bom devido a toda complexidade do disco. Eu adoro a maneira como a guitarra soa. É vasta e clássica... um som terrível vindo de um Marshall. Rick Chycki é um engenheiro fantástico".
The Garden
"The Garden foi uma das primeiras músicas que surgiram para Clockwork Angels. Na verdade Geddy compôs a maior parte. Ele trabalhou um pouco nela à noite, e no dia seguinte eu ouvi sua abertura de baixo e o verso. A ideia era a mantermos simples e sincera. O sentimento foi muito sobre estarmos no fim, sendo uma retrospectiva, então deveria haver uma doçura para ela. Nick ficou um pouco cauteloso sobre a canção ficar muito doce, no entanto. A demo era bem acústica. Havia trechos de piano, assim como cordas, e tudo era bem leve. Nick queria endurecê-la um pouco.
Caminhamos mais entre as pontes e refrão – ela não tem os dedilhados tranqüilos dos versos – e desenvolvemos todo o trecho mediano. O solo é um dos meus favoritos. Ele é muito adequado para todo o restante da canção. Quando o ouvi, meus olhos se encheram de lágrimas. Há algo nele que me arrebata, a maneira com que se encaixa com todo o resto. O refrão de fechamento se mantém crescendo, crescendo e crescendo, até chegar no instante final. Foi uma ótima maneira de se terminar um disco".
Fonte original(em inglês) desta matéria: Music Radar
Fonte: Rush - Fã Clube BR
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